Volto sempre a casa como em todos os regressos.
Limpo as armas e guardo as balas para outro campo de batalha.
Desmonto todas as estratégias e guardo a perspicácia no abstracto do pensamento.
Sinto o peso da armadura que me defendeu dos golpes e respiro profundamente antes de a despir.
Os ventos de paz sopram e levam a minha ira, a minha angústia, mas não arrancam a minha derrota.
Fico à espera do sol.
Sei que me virá coroar uma vez mais.
Eudemim
30/01/2008
Coroas de Sol
29/01/2008
A Sul sem Norte
Às vezes perco o Norte apesar de ter a certeza que estou no Sul.
O farol apagado aponta apenas numa direcção escura.
Fico baralhada com todos os pontos cardeais e sinto neve em pleno Verão.
Ando kilómetros em terrenos sinuosos e no fim da caminhada doem-me as mãos.
Duvido da certeza e tenho a certeza de todas as dúvidas.
Juro ver a lua em forma de estrela e estou convencida que é Marte que tem os anéis.
A brancura do branco é cinza e o arco-iris tem só duas cores.
Eudemim
28/01/2008
Fora de contexto
Queria acordar noutro tempo, noutro cheiro.
Numa verdade que conheci por instantes, onde tudo estava dentro do contexto porque os lugares ocupados tinham sido marcados por alguém conhecedor das histórias de encantar.
Não queria nada que tivessem inventado este novo papel de cenário que não ajudei a pintar, nem queria fazer parte desta história que não é a minha.
Vou voltar a adormecer e acordar, quem sabe, num final feliz.
Eudemim
24/01/2008
Atelier do imaginário
Vivemos a criar expectativas. Pensamos que vai ser assim e depois é assado. Quando a realidade se revela positiva, tudo bem. O pior é quando afinal não era mesmo nada do que tínhamos pensado.
Tudo o que planeámos no atelier do imaginário de repente desmonta-se, desaparece. E pode ser um simples encontro, um espectáculo, como pode ser uma vida inteira.
Mas os culpados somos nós e apenas nós próprios. Tentamos arquitectar tudo à nossa semelhança, com detalhes que suprimam as nossas carências.
Como se fossemos “construtores da realidade”.
Agimos como proprietários dos acontecimentos, da personalidade dos outros e do rumo da vida. Nada disso !!
Se não sabemos o que pode acontecer no minuto seguinte a este momento, para quê construirmos todas as horas do mundo!!
Eudemim
23/01/2008
No melhor pano
Porém ela queria mesmo era correr sem parar, sem direcção. Apenas correr até que o tempo passasse. O melhor seria mesmo correr em direcção à máquina do tempo e aparecer noutro tempo. Deixar de estar no presente só por algum tempo. Mudar de ares, de cores, de vida, mudar o que mudou.
Sentir o principio de tudo, quando tudo era a descoberta das certezas.
Então mergulhou no tempo e navegou pelos anos, passou pelos dias e horas e foi observando as correntes. Viu as embarcações que se atravessaram no seu oceano, aquelas que afundaram, as outras que desapareceram na linha do horizonte e as poucas que sobreviveram.
Parou a viagem naqueles momentos de beleza que ficam gravados na memória e com o tempo se transformam no mel que vai acariciando os corações sempre que a tristeza nos invade.
Eudemim