Ternura

Praia de Stª Cruz Ago/05

"A Ternura és tu ao dizeres-me sempre quando saio para o trabalho: “Tem cuidado, sê prudente”
Sê prudente com o quê ? poderia pensar a pessoa a quem é dado este conselho, porque os conselhos de prudência são os que menos se seguem e os que mais se esquecem.
Sê prudente, porque eu não estou fisicamente ao teu lado, contigo, parte de mim próprio que se afasta. Mas no “sê prudente” ainda estou em ressonância. Isto quer dizer que se te acontecesse qualquer coisa, isso far-me-ia muito mal. Não, não estou a vigiar-te, mas velo por ti porque te amo.
A Ternura és tu quando vais comprar-me croissants, ao domingo de manhã, porque sabes que eu gosto e tiveste de sair muito cedo e discretamente para não me acordares, e me fazeres ainda melhor a surpresa.
A minha Ternura por ti é ficar muito contente a saboreá-los como se tivessem o melhor gosto do mundo e talvez o tenham mesmo, e o facto de teres ido buscá-los já é como se tivesses sido tu a fazê-los.
A tua Ternura é quando me arrefeceste o prato da sopa que estava muito quente. “ Assim não te queimas” disseste-me tu.
A tua Ternura é quando te privaste de tudo para fazeres poupanças com a finalidade de me ofereceres essa coisa que eu desejava há tanto tempo, e tudo isso sem nunca me teres dito nada antes.
A tua Ternura é quando me trataste aquela ferida – tinha-me cortado - e me deste um beijo que vale por todos os bálsamos da terra.
A minha Ternura é quando te fiz e voltei a fazer tantas vezes o chá quando estavas doente e rodei longamente a colher lá dentro para que o mel que pus ficasse bem diluido. A cada volta da colher, dizia o meu pensamento: Com isto vais curar-te...com isto vais curar-te...”
A tua Ternura é quando esta noite me cobriste com o teu cobertor porque sabias que eu tinha frio...
A minha Ternura deve ser semelhante à tua, e fica sabendo que de cada vez que ma prodigalizas, o meu reconhecimento põe-se de joelhos diante do teu coração para lhe agradecer e que com todos estes pequenos nadas só tento dar-te grandes coisas."

In Pequeno Tratado de Ternura - Mercier